DE 15 A 25 DE ABRIL

Toda a palavra ou enunciado são precedidos por uma voz silenciosa, por um sonho acordado repleto de imagens e de pensamentos difusos sempre actuantes no nosso íntimo. Mistura de fantasmas e de pensamentos claros, de lembranças ou desejos, essa voz enfeita a linguagem e fornece-lhe, ao mesmo tempo, o seu terreno fértil. Este mundo caótico e silencioso que nunca se cala é a nossa vida interior. As formulações que daí emergem podem depois ser esmagadas logo à nascença. As ditaduras, na essência ou nas margens dos regimes políticos, ou como doença viral em relacionamentos pessoais, tendem a calar o indivíduo. A modernidade, por outro lado, leva a mal o silêncio. A palavra sem fim e sem réplica prolifera em detrimento da palavra renascente da comunicação quotidiana com os nossos próximos. Falamos da palavra que muda de estatuto antropológico: sai da ordem da conversa, entra no domínio dos media, das redes, dos telemóveis. Philippe Breton falava do paradoxo de uma sociedade “altamente comunicante e fracamente coincidente”.

Se alargarmos a geografia das nossas reflexões, veremos também que Ocidente e Oriente assumem estratégias distintas de significação do silêncio e da palavra. Falemos então de silêncios - os que crescem connosco, os que estranhamos, os que quebramos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

«Estado de Graça»

Obrigada, Francisco Madeira Luís!

(...) As últimas semanas de Abril, em Aveiro, foram relativamente férteis em actividades culturais: uma série de performances, painéis, exposições ou ateliers, sob o tema “Silêncio”, organizada por uma pequena associação – Oficinas Sem Mestre – em vários espaços da cidade
(...) entre outros, três fabulosos registos fílmicos apresentados no evento sobre o silêncio (“Dundo – memória colonial”, de Diana Andringa, “Cruzeiro Seixas: o vício da liberdade”, de Alberto Serra e uma montagem com imagens da erupção do vulcão dos Capelinhos, nos Açores, em 1957/58, a partir do registo do Professor Frederico Machado);
(...) Dos três filmes direi: do primeiro que ele aclara bem os difíceis trilhos da ambiguidade entre consciência e estatuto de colonizador (e talvez também de alguns colonizados), do segundo que os trilhos, ou melhor, complexos, são agora o da coerência de um projecto criador e do terceiro que à acção da Natureza, ao contrário da do Homem, se nos impõe com a Beleza do inevitável, do arquétipo, para lá do Bem e do Mal, que daí advêm para a nossa espécie.

Sem comentários:

Enviar um comentário